
MÊS DE
RAMADAN
Ramadan
2017. A partir do início da noite de sexta-feira , 26 de maio até o início da
noite de sábado , 24 de junho
As
datas podem variar.
A
importância e o significado do Ramadan para os muçulmanos
O
jejum no mês de Ramadan (nono mês do calendário islâmico) é um dos cinco pilares
do Islam, e consiste no ato de abster-se, desde o raiar da aurora (oração da
alvorada) até o pôr-do-sol (oração do crepúsculo), da ingestão de qualquer
espécie de alimentos e bebidas, assim como fumar e manter relações sexuais. Este
período pode ser maior ou menor, já que utilizamos o calendário lunar, que é
móvel.
Dependendo
do mês e estação do ano correspondente no calendário solar, podemos jejuar no
inverno, de dias curtos e frios (como este ano, em que o Ramadan começou em 11
de agosto), no verão, de dias longos e quentes, e outras vezes em períodos
intermediários. Isso faz com que haja uma equidade entre os muçulmanos no mundo
inteiro, pois todos acabam praticando o jejum nas mais diferentes épocas do ano
ao longo de suas vidas, não havendo vantagens em se jejuar em um local ou outro.
Mais uma das inúmeras provas da justiça, do amor e da clemência de Deus para com
as Suas criaturas.
O
jejum é obrigatório para todo muçulmano que tenha atingido a puberdade e que
goze de perfeita saúde física e mental. A gestante e a lactante, a mulher
menstruada ou em resguardo pós-parto e os enfermos ou em viagem estão isentos do
jejum, devendo repor os dias não jejuados após o término do período que o
impossibilita de jejuar. Esta reposição será feita após o mês sagrado, podendo
ser em dias alternados ou seguidamente, mas terá como prazo o último dia antes
do início do próximo mês de Ramadan. Para o idoso ou portador de uma doença
incurável, o jejum deixa de ser uma obrigação, devendo fornecer uma refeição a
um necessitado (ou o valor equivalente) por cada dia não jejuado, caso tenha
condições.
É
recomendado ao muçulmano que antes do início do jejum faça uma refeição leve
(suhur), com frutas, sanduíches, biscoitos, bebendo também bastante líquidos,
como leite, sucos e, principalmente, água. Pode não parecer, mas o efeito desta
refeição antes do jejum, aconselhada e praticada pelo profeta Muhammad (Que a
bênção e a paz de Deus estejam sobre ele), facilita, e muito, o jejuar ao longo
do dia. Ao chegar o horário do término do jejum, deve-se quebrá-lo
imediatamente, consistindo inclusive em pecado protelar a ingestão de alimentos
por tempo além do estabelecido.
É
costume quebrar o jejum com água e algumas tâmaras, tal qual a sunna (prática)
do profeta, pois este fruto possui propriedades que restabelecem rapidamente as
condições do corpo, às vezes um pouco fragilizado por conta do jejum. Em seguida
faz-se a oração do crepúsculo, e aí sim completamos o desjejum com uma refeição
maior (iftar). Mas, ao quebrar o jejum, não se deve comer muito depressa, nem em
quantidades gigantescas, e sim apenas o suficiente para sentir-se satisfeito.
Afinal, como disse nosso amado profeta Muhammad (Que a bênção e a paz de Deus
estejam sobre ele): "Ao se alimentar, dividam o estômago em três partes: uma
para o alimento, outra para a bebida e outra para o ar".
O
caráter sublime do Jejum no mês de Ramadan
Engana-se
quem pensa que o jejum é apenas deixar de comer e beber. A privação não é a
finalidade desta adoração, mas sim os inúmeros benefícios que estão por detrás
desta ação. Apesar de o jejum parecer difícil, ele não é de forma alguma imposto
como uma punição, e sim como um ato de devoção e autodisciplina. A esse
respeito, disse o profeta Muhammad (Que a bênção e a paz de Deus estejam sobre
ele):
"Ao
muçulmano que não deixar de dizer inverdades e não abandonar todas as formas de
maldade no Ramadan, não lhe adiantará jejuar, pois a Deus não interessa que ele
deixe apenas de comer e beber"
Sabendo
disso, o muçulmano encara este mês como uma fase de extrema adoração e
autorreflexão, na qual ele observa os pontos de sua vida em que precisa
progredir, e esforça-se ainda mais para não cometer faltas. Afinal, um pecado
cometido em um mês sagrado de forma alguma é algo desejado, ao mesmo tempo em
que uma boa ação neste período resulta em recompensas muito maiores a quem a
pratica.
Isso
se deve ao fato deste ser o melhor mês do ano, o mais abençoado, aquele no qual
Deus fez descer pelos sete céus o Alcorão Sagrado, guia e orientação para a
humanidade. Também no mês de Ramadan foram revelados os livros sagrados
anteriores, conforme o seguinte hadith (dito) do profeta Muhammad (Que a bênção
e a paz de Deus estejam sobre ele):
"As
páginas de Abraão foram reveladas no primeiro dia de Ramadan, a Torá aos seis
dias de Ramadan, e o Evangelho foi revelado treze dias passados do
Ramadan"
Nesse
período, o muçulmano exercita a sua paciência e o domínio do seu próprio corpo,
bem como dos desejos da alma, o que é altamente benéfico. O aumento do
autocontrole facilita o caminho do fiel pela senda reta, na medida que ele se
afasta mais facilmente das tentações que lhe recaem inevitavelmente ao longo da
vida. Isso serve de preparação para que o muçulmano tenha o mesmo pensamento, a
mesma devoção, a mesma determinação na prática de boas ações e a mesma
tolerância e firmeza contra os pecados e toda a sorte de ilicitude nos demais
meses do ano. Ou seja, aquele que compreende este verdadeiro sentido do Jejum no
mês de Ramadan, e passa a aplicá-lo durante toda a vida, dá um enorme passo para
viver plenamente de acordo com as normas que Deus estabeleceu para nós por meio
do Din (sistema de vida).
Os
motivos e benefícios da prática do Jejum no mês de Ramadan
Este
pilar da religião está determinado claramente no Alcorão Sagrado:
"Ó
crentes, está-vos prescrito o jejum, tal como foi prescrito a vossos
antepassados, para que tenham temência a Deus e sejam piedosos. (...) Ramadan é
o mês em que foi revelado o Alcorão, evidência de orientação e discernimento
para a humanidade. Então, quem de vós presenciar esse mês, que nele
jejue."
Alcorão:
Sura da Vaca (Al-Bácara - 2:183-185)
Somente
o fato de estar relatado no livro sagrado já seria suficiente para legitimar a
prática do jejum. Afinal, muçulmano é todo aquele que se submete voluntariamente
à vontade de Deus e, dessa forma, quando recebe uma ordem do Seu Criador, dá
apenas uma frase como resposta: "Ouço e obedeço". No entanto, basta refletirmos
um pouco mais sobre o espírito sublime do Jejum no mês de Ramadan, como
descrevemos acima, para descobrirmos outros diversos benefícios e motivações
para a sua prática.
A)
Integração da comunidade
Durante
o mês de Ramadan é comum visitar os amigos e familiares, assim como a realização
de quebras de jejum em conjunto nas mesquitas, onde os muçulmanos compartilham
os benefícios e as experiências obtidas neste mês sagrado. Isso faz com que a
união entre eles prevaleça por intermédio do exercício religioso, já que todos
estão sintonizados no mesmo espírito do jejum, mantendo a unidade da Ummah
(nação islâmica).
B)
Aprendizado da arte de se adaptar
Todos
nós temos problemas em nossas vidas, e precisamos constantemente criar maneiras
de lidar com eles a fim de resolvê-los. O ser humano está em constante processo
de aprendizado, e em muitas ocasiões precisa se adaptar a situações com as quais
não está acostumado ou que o desfavorece. Nesse sentido, o jejum exercita a
capacidade de adaptação de cada um, fazendo com que o muçulmano conheça a si
próprio, profundamente, dentro de seus limites. Isso permite que no futuro ele
possa desempenhar as mais variadas funções, ainda que não as domine plenamente,
simplesmente pelo fato de ter facilidade em se adaptar.
C) O
jejum e a saúde
Diversos
médicos e nutricionistas já confirmaram os benefícios trazidos por dietas
controladas, que incluem muitas vezes períodos de jejum.
Uma
pesquisa divulgada em outubro de 2007 no Journal of Lipid Research mostrou que o
jejum pode diminuir a quantidade de células gordurosas no organismo e acelerar
os mecanismos de quebra de células adiposas, o que contribuiria para a prevenção
de doenças como obesidade, diabetes tipo 2, problemas cardíacos e
sanguíneos.
D)
Valorização das bênçãos de Deus
O
jejum traz a lembrança de que a comida e a bebida são privilégios concedidos por
Deus, nos fazendo pensar sobre a importância desta bênção de Deus para conosco
justamente ao nos privarmos da alimentação. Isso faz com que agradeçamos e
valorizemos uma das benesses que Ele nos dá todos os dias e sem a qual não
podemos viver, que é a possibilidade de comer e beber.
Assim
como o Ramadan molda o seu comportamento ao longo de um mês e serve de
preparação para que o muçulmano repita essa boa postura nos outros meses, o
jejum parte de um ponto de conscientização - a valorização do alimento - para
nos lembrar de agradecer por todas as outras bênçãos de Deus que, embora estejam
à nossa frente, não nos recordamos em nosso "atribuladíssimo cotidiano". Alguém
conseguiria viver sem o sol, por exemplo? Poderíamos dispensar a água do mar,
que nos dá, entre outras coisas, a própria chuva, como Deus diz no Alcorão?
Acaso poderíamos viver se na Terra não houvesse condições para a vida humana,
como a água, a atmosfera, a camada de ozônio?
Como
organizaríamos nossa vida se não existisse o dia e a noite? Se os planetas não
se movessem, especialmente a Terra em suas trajetórias de rotação e translação,
não existiriam esses períodos intercalados. E quem mantém o Universo nesta forma
perfeita para a nossa sobrevivência? Isso sem falar na incrível máquina que é o
corpo humano, divinamente criado, literalmente.
Somente
Deus é responsável por nossas vidas, Munificente e Provedor por excelência, e
por isso somente a Ele devemos total adoração e agradecimento. E o abençoado
período do Ramadan nos faz recordar de tudo isso, sendo assim um dos principais
motivos para a prática do jejum.
E)
Criação de um novo olhar para com o seu semelhante
Uma
vez revitalizados com a consciência da importância das bênçãos diárias de Deus
em nossas vidas, impossível sairmos do mês de Ramadan com a mesma impressão de
antes. O jejum não só permite que valorizemos o alimento, como também nos faz
lembrar daqueles que não possuem as mesmas condições que nós. Uma coisa é
sabermos pelo noticiário e pelas estatísticas que milhões de pessoas passam fome
no mundo. Outra bem diferente é sentir na pele o que elas sentem.
Afinal,
ao abrirmos a geladeira e a encontrarmos sempre cheia, com a permissão de Deus,
nos esquecemos rapidamente de qualquer notícia ruim. Mas e aqueles que não
possuem nem mesmo um lugar para morar, quanto mais uma geladeira? Estes se
lembram, todo dia e da pior forma possível, o que é sentir fome e
sede.
Ao
longo do mês de Ramadan, o muçulmano desenvolve um novo olhar para com estas
pessoas. Cria-se um sentimento humanitário e de solidariedade muito maior,
estimulando-o a ajudar os mais necessitados durante toda a sua vida, sempre que
possível. A caridade é uma ação extremamente relevante e recomendada pelo
Alcorão, tendo valor inestimável aos olhos de Deus.
Em
última análise, o mês de Ramadan serve para trazer ao muçulmano a consciência de
seu papel social, pois, como disse o profeta Muhammad (Que a bênção e a paz de
Deus estejam sobre ele), "Não é crente aquele que dorme saciado e tranquilo em
sua casa sabendo que seu vizinho está com fome".
Fontes:
Alcorão
Sagrado
Islam:
a sua crença e a sua prática
K. A.
Varady, D. J. Roohk, Y. C. Loe, B. K. McEvoy-Hein, and M. K. Hellerstein Effects
of modified alternate-day fasting regimens on adipocyte size, triglyceride
metabolism, and plasma adiponectin levels in mice. J. Lipid Res. 2007. First
Published on July 2, 2007.
*
Autor: Fernando Celino / Jornalista e integrante do Departamento Educacional da
Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro
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