Dr.
Paulo Niemeyer Filho, 63, é referência no Brasil quando se trata de
neurocirurgia
Já
publiquei aqui no 50emais esta entrevista – na verdade, um trecho de uma longa
conversa com a revista Poder – do Dr. Paulo Niemeyer Filho, neurocirurgião
carioca que é referência no Brasil em seu campo de trabalho – um dos médicos
mais respeitados do país. Estou postando novamente para quem ainda não leu e
para os que já leram, relerem, porque é o tipo de entrevista que, de vez em
quando, é bom voltar a ela. Quando perguntado se existe algum inimigo do bom
funcionamento do cérebro, Dr. Paulo responde: “Exagero. Na bebida, nas drogas,
na comida. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da
outra.” E Deus, existe? Questiona o entrevistador: “Depois de dez horas de
cirurgia, aquele estresse, quando acabamos de operar, vai até a família e diz:
“Ele está salvo”. Aí, a família olha pra você e diz: ‘Graças a Deus!’. Então, a
gente acredita que não fomos apenas nós.”
Leia:
Dr.
Paulo Niemeyer Filho, é filho do lendário Neurocirurgião Paulo Niemeyer,
microneurocirurgia da Pioneiro no Brasil, e sobrinho do arquiteto Oscar
Niemeyer. Dr. Paulo escolheu a medicina ainda adolescente. Aos 17 anos, entrou
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Quinze dias depois de formado,
com 23 anos, mudou-se para a Inglaterra, onde foi estudar neurologia na
Universidade de Londres. De volta ao Brasil, fez doutorado na Escola Paulista de
Medicina.
Ao
todo, sua formação levou 20 anos de Empenho absoluto. Mas foi uma recompensa à
altura. Apaixonado por seu ofício, Dr. Paulo Chefia hoje os Serviços de
Neurocirurgia da Santa Casa do Rio de Janeiro e da Clínica São Vicente, onde
opera e atende de segunda a sábado, quando não há uma emergência no domingo, e
ainda encontra tempo para dar aulas no Curso de Pós Graduação em Neurocirurgia
da PUC-Rio.
Por
suas mãos passaram já o músico Herbert Vianna – de quem cuidou em 2001, depois
do acidente de ultraleve em Mangaratiba, litoral do Rio -, o ator e diretor
Paulo José, a atriz Malu Mader, o diretor de televisão Estevão Ciavatta – marido
da atriz Regina Casé, além de outros Centenas de pacientes, muitos deles
representados pelas belas flores que enchem de vida o seu jardim.
Revista
Poder – O que fazer para melhorar o cérebro?
Dr.Paulo
Niemeyer: Você tem de tratar do Espírito. Precisa estar feliz, de bem com a
vida, fazer exercício. Se está deprimido, com a auto-estima baixa, a primeira
coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória
são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor,
você tem de ter motivação.. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa,
ter prazer no que está fazendo e ter a auto-estima no ponto.
PODER:
Cabeça tem a ver com alma?
PN:
Eu acho que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral,
você tem a impressão de que ele já está sem alma… Isso não dá para explicar, o
coração está batendo, mas ele não está mais vivo.
PODER:
O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?
PN:
Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um
exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não
importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma seqüela grave:
ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra
o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de
2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um
check-up.
PODER:
Você acha que a vida moderna atrapalha?
PN:
Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror.
As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento
era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios
fortíssimos, ninguém mais tem dor.
PODER:
Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?
PN: O
exagero. Na bebida, nas drogas, na comida. O cérebro tem de ser bem tratado como
o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro ir muito bem num
corpo muito maltratado, e vice-versa.
PODER:
Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?
PN:
Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos
entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que
serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partículas de
nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam
dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente. Daqui a 50 anos
ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.
PODER:
Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?
PN:
Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas irão bem até
morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você
puder ir bem de saúde, de aspecto, até o dia da morte, será uma
maravilha.
PODER:
Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha
que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas?
PN: O
cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê
pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso
porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse
clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente
vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.
PODER:
Você acredita em Deus?
PN:
Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina
toda, quando acabamos de operar, vai até a família e diz: “Ele está salvo”. Aí,
a família olha pra você e diz: “Graças a Deus!”.
Então,
a gente acredita que não fomos apenas nós.
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