Imagem:
Carnaval, 1962 / Carybé

CARNAVAL:
DE PAGÃO A CRISTÃO
Apesar
do carnaval ser a festa popular mais celebrada no Brasil e ao longo do tempo
tornar-se elemento da cultura nacional, a história do Carnaval tem raízes mais
profundas e remonta à Antiguidade, tanto na Mesopotâmia quanto na Grécia e em
Roma.
Sabe-se
que era um período anual de festas profanas, o que hoje corresponde ao período
de três dias, que na na cultura cristã sempre acaba na Quarta-Feira de Cinzas,
às vésperas da Quaresma.
A
palavra carnaval vem do latim carnem levare, que significa “abster-se,
afastar-se da carne”.
Segundo
a Grande Enciclopédia Larousse Cultural: “...no latim medieval carnelevarium,
carnilevaria, carnilevamem, véspera de Quarta-Feira de Cinzas, tempo em que se
iniciava a abstinência da carne.”
É
importante lembrar que o afastamento da carne é uma exigência da
Quaresma.
Segundo
o dicionário Houaiss: “...do latim clássico carnem levare (...) fixa-se no
italiano carnevale (séc. XIV) e daí no francês carneval (1552) carnaval (1680),
passando às demais línguas europeias ainda no século XVII.”
O
primeiro elemento vem do latim caro, carnis (=carne), e o segundo elemento vem
do verbo latino levare (=tirar, sustar, afastar). Há quem suponha que a segunda
parte do vocábulo pertença ao domínio popular, do latim vale (=adeus); daí
carnevale (=adeus à carne).
Assim,
o significado está relacionado com o jejum que deveria ser realizado durante a
quaresma. Relaciona-se, também, ao controle dos prazeres mundanos. Isso
demonstra uma tentativa da Igreja Católica de enquadrar uma festa
pagã.
Mesmo
contando com a resistência de algumas alas mais conservadoras, o Carnaval passou
a contar com um período de celebração regular quando, em 1091, a Igreja
oficializou a data da Quaresma. Contando com esse referencial, o carnaval
começou a ser usualmente comemorado como uma antítese ao comportamento reservado
e à reflexão espiritual que marcam a data católica. Assim, a festa carnavalesca
passou a ser compreendida como um período onde as obrigações e diferenças do
mundo cotidiano fossem anuladas.
Na
antiga Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como
carnaval. As Saceias, uma festa em que um prisioneiro assumia, durante alguns
dias, a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e
dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois
enforcado ou empalado.
O
outro rito era realizado pelo rei nos dias que antecediam o equinócio da
primavera, período de comemoração do ano novo na região. O ritual ocorria no
templo de Marduk, um dos primeiros deuses mesopotâmicos, onde o rei perdia seus
emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação
servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente
assumia o trono.
O
que havia de comum nas duas festas era o caráter de subversão de papéis sociais:
a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao
deus. Possivelmente a subversão de papeis sociais no carnaval, como os homens
vestirem-se de mulheres e vice-versa, pode encontrar suas origens nessa tradição
mesopotâmica.
As
associações entre o carnaval e as orgias podem, ainda, se relacionar às festas
de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos).
Seriam festas dedicadas ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos),
marcadas pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.
Em
Roma havia as Saturnálias e as Lupercálias. As primeiras ocorriam no solstício
de inverno, em dezembro, e as segundas, em fevereiro, que seria o mês das
divindades infernais, mas também das purificações.
Tais
festas duravam dias com comidas, bebidas e danças. Os papeis sociais também eram
invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus
senhores, e estes colocando-se no papel de escravos.
As
Saturninas Romanas se trata de um festival pagão que celebrava a entrada da
primavera. Dois carnavais foram instituídos com o passar do tempo: O de
primavera e o de inverno, que remontam aos dois festivais celtas: Beltane, o
Festival da Primavera e Samhain, o Festival de Inverno, momentos considerados
sagrados pelas antigas culturas.
Os
romanos, sob a proteção da deusa Carna e do deus Jano, durante uma semana
festejavam uma pausa no tempo, um período de suspensão quando toda a regra era
abolida. As classes sociais deixavam de existir e a sexualidade era liberada.
Posteriormente, esse tempo foi reduzido para três noites e três dias, período
concedido também aos mortos no Samhain, o Festival dos Mortos (as máscaras
carnavalescas seriam uma alusão às máscaras mortuárias).
Outra
possível origem do carnaval, são os Mistérios de Elêusis, as festas da deusa
Deméter. Conta a lenda que Deméter, uma das filhas de Gaia (a Grande Deusa que
dançando criou o mundo), junto com seus irmãos, os Titãs, foi condenada a viver
nas profundezas da terra, mas Deméter aprendeu a amar seu local de exílio e
quando ganhou a liberdade tornou-se a Deusa da Natureza.
Sua
filha Kore, certo dia quando apreciava as flores, foi raptada por Hades, o
Senhor do Submundo. Desesperada, Deméter procurou a filha por todos os cantos da
terra, mas não encontrou. Cansada da busca, sentou em uma pedra travestida como
uma velha senhora, quando foi vista pelas filhas do Rei de Elêusis, que
levaram-na ao palácio de Celeu e Metanira, onde foi encarregada de amamentar o
príncipe Demófon.
Para
retribuir a hospitalidade do rei, Deméter resolveu tornar o príncipe um imortal.
Para isso, todas as noites o untava com ambrosia e colocava para dormir dentro
da lareira. A rainha Metanira, observando a ama, ao ver o filho na lareira
começou a gritar, desfazendo o encanto. Depois de se mostrar a Metanira com toda
a sua glória, Deméter deixou o palácio e partiu novamente em busca da
filha.
Procurou
Hécate, a feiticeira, para juntas implorarem a Hélios, o Sol, que lhes dissesse
o paradeiro de Kore. Hélios contou que Kore fora raptada por Hades e que agora
chamava-se Perséfone, a Senhora do Submundo. Deméter então pediu a Zeus, irmãos
de Hades, para que conseguisse com Hades a liberação de Perséfone. Diante a
recusa de Zeus, furiosa Deméter fez secar toda a terra, proibindo qualquer
árvore de florescer. Assustado, Zeus pediu a Hades que devolvesse Perséfone à
mãe.
Hades
não pôde discordar do irmão, mas antes fez com que a deusa ingerisse sete
sementes de romã, pois, de acordo com a lei, aquele que comesse no submundo,
jamais poderia voltar dele. Assim, ficou decidido que Perséfone passaria nove
meses do ano com Deméter e três meses com Hades, no submundo. Com a volta da
filha, Deméter tornou o mundo novamente verdejante e para recompensar os
soberanos de Elêusis, pela acolhida, iniciou o príncipe Demofon nos mistérios
agrários, ensinando-o a plantar trigo, cultura que não existia.
A
deusa Deméter era homenageada na primavera com os pequenos mistérios e a cada
dois anos com os grandes mistérios. No final dos ritos acontecia uma festa,
quando os novos iniciados tomavam o poder da cidade de Elêusis por algumas
horas.
Em
sua volta a Atenas, vestindo longas túnicas e máscaras que os deixavam
irreconhecíveis, eram aguardados pelo povo, que assistia as cerimônias fora dos
templos, na ponte sobre o rio Cefiso.
Ali
faziam uma apresentação e protegidos pelas máscaras criticavam os poderes e
denunciavam injustiças verbalmente e através de gestos. O povo imitava esses
trejeitos e ria com eles. Ao final da noite, os novos iniciados trocavam de
roupa e fugiam para não serem reconhecidos.
Durante
os carnavais medievais, por volta do século XI, no período fértil para a
agricultura, homens jovens que se fantasiavam de mulheres saíam nas ruas e
campos durante algumas noites. Diziam-se habitantes da fronteira do mundo dos
vivos e dos mortos e invadiam os domicílios, com a aceitação dos que lá
habitavam, fartando-se com comidas e bebidas, e também com os beijos das jovens
das casas.
No
período do Renascimento, nas cidades italianas, surgia a Commedia dell'Arte,
teatros improvisados cuja popularidade ocorreu até o século XVIII.
Em
Florença, canções foram criadas para acompanhar os desfiles, que contavam com
carros decorados, os trionfi.
Em
Roma e Veneza, os participantes usavam a bauta, uma capa com capuz negro que
encobria ombros e cabeça, além de chapéus de três pontas e uma máscara
branca.
Durante
a Idade Moderna, os bailes de máscara, as fantasias e os carros alegóricos foram
incorporados à festa. Com o passar do tempo, as características improvisadas e
subversivas do Carnaval foram perdendo espaço para eventos com maior organização
e espaços reservados à sua prática. Grande parte da inspiração do nosso carnaval
contemporâneo foi trazida com a grande influência que a cultura francesa teve no
Brasil, principalmente, no século XIX.
Atualmente,
o prestígio alcançado pelos desfiles de carnaval, principalmente no Rio de
Janeiro e em São Paulo, e a disseminação das chamadas micaretas trouxeram novas
transformações ao evento.
A
história do carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma das primeiras
manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem portuguesa que na
colônia era praticada pelos escravos.
Depois
surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos e as escolas de
samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição
cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais
também foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil.
Cálculo
do dia da Carnaval
Todos
os feriados eclesiásticos são calculados em função da data da Páscoa com exceção
do Natal. Como o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira
lua cheia que se verificar a partir do equinócio da primavera (no hemisfério
norte) ou do equinócio do outono (no hemisfério sul), e a sexta-feira da Paixão
é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a terça-feira de Carnaval ocorre 47
dias antes da Páscoa.
Datas
do Carnaval
O
Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa, em fevereiro, geralmente, ou em março,
conforme o Cálculo da Páscoa ocorre próximo do dia de Lua Nova Assim, poderá
calhar próximo do ano novo chinês, se calhar antes ou próximo de 19 de fevereiro
No século XXI, a data em que ocorreu mais cedo foi a 5 de fevereiro de 2008 e a
que ocorrerá mais tarde será a 9 de março de 2038. Embora seja possível noutros
séculos, o dia de Carnaval não ocorrerá a 3 ou 4 de fevereiro durante todo o
século XXI.
O
carnaval transformou-se numa festa alegre e colorida que permite às pessoas se
desligarem do mundo real e entrarem num mundo mágico onde tudo é possível. O que
os carnavalescos não sabem é que, todas as vezes que saírem às ruas fantasiados,
repetem sem querer os antigos mistérios de Elêisos e das Saturninas Romanas,
homenageando assim os deuses antigos e trazendo de volta à vida a Celebração dos
Mistérios (Fontes: Revista Cult).
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Carmen
Balhestero
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