Falávamos
em Ressonância: maravilhosa capacidade que temos de soar juntos,
de amplificar ideias e valores, intensificar movimento, vibrar em consonância.
Pensemos agora em uma câmara, ou caixa, que faz ressoar, uma sala viva que
arremessa tudo de um lado para o outro em perpétua reflexão; um lugar onde os
limites da emissão se apresentam e começamos a repetir.
Toda
onda perde energia a partir de sua emissão, tudo vai perdendo energia ao se
afastar da própria fonte. Até que, de reflexão em reflexão, encontra um corpo
onde pode ressoar, então se intensifica, se prepara e se lança novamente. É belo
o conceito da Ressonância, corpos que vibram numa mesma frequência e se unem
consonantes ou se disputam dissonantes, mas vibram.
Quando
falamos em Eco, não estamos mais pensando em vibração. Não se trata mais da
potência de afecção de uma ideia, mas da sua simples repetição. Trata-se mais da
capacidade de reflexão das coisas ao redor de um som, ou seja, de um ambiente. O
banheiro de azulejos é a sala de espelhos do som, tudo é refletido. A caverna é
replay do som, tudo é repetido.
Nós
carregamos uma câmara de eco dentro de nós. Quantas vezes não ficamos presos na
incessante circulação de uma mesma ideia, dos mesmos afetos, ressentimentos. São
os nossos abismos que se evidenciam aqui. Para entrar em uma longa repetição,
basta que atiremos com intensidade suficiente. A formação rochosa e profunda
desse lugar é bastante desconhecida, nós não conseguimos descer tão fundo. Mas
nós poemos vigiar suas entradas É na porta dessas cavernas que devemos ter o
maior cuidado, pois elas são ambientes onde o Eco impera.

E
as igrejas que nos habitam? Os coros de Amén em profusão, nos afogando
em nossas culpas. Os longos corredores de ajoelhados recitando salmos em direção
ao altar. Não, o ambiente da igreja não favorece apenas os lindos e afinados
corais. Favorece também os valores cristãos que tanto insistimos em negar.
Precisamos fechar as grandes portas de carvalho dessas igrejas que carregamos no
peito. Chega de tanto ecoar expiação, má consciência, asceticismo…
O
que queremos fazer retornar? Nossos medos e tristezas? Creio que não. Daí a
necessidade de uma atividade imensa, de uma postura de atividade que é, antes de
tudo, seletiva. Não deixar fazer soar eternamente nossos desassossegos. Não
atirar ao abismo o que não queremos fazer ecoar. Às vezes metemos os desagrados
nos abismos esperando que elas se calem e elas voltam produzindo mil fantasmas,
engrandecidas pelo ambiente, aparecem retorcidas em deformação.
Há
ainda um perigo maior. O que jogamos às nossas profundezas pode lá encontrar
ressonância e se intensificar em conjunto com todo o ambiente ecoante.
Microfonia, feedback, retroalimentação do pior. Nós não escolhemos alimentar
nossos demônios, eles é que acham seu alimento dentro de nós. Ao menos, temos a
chance de mantê-los longe. Não introjetar o que nos incomoda é a melhor opção.
Saibamos colocar para fora. Saibamos colocar limites. Saibamos ser esponja num dia e concreto no outro.
Porosidade só quando convier.
Jackson Pollock
Precisamos
deixar de ser a caixa de repetição das lógicas impostas. Precisamos deixar de
ser afetados por tudo o que jogam por aí, nas ondas de rádio e televisão, nos
cultos e reuniões. Todos precisam de um pouco de silêncio. Só assim
interrompemos o barulho incessante que invade nossos pensamentos. Quem sabe com
um pouco de silêncio, nós consigamos dizer algo.
Aprender
a lidar com o Eco é só uma outra maneira de pensar o Eterno Retorno, de saber como o retorno das coisas se
apresenta, ora como um plus de potência, ora como impotência e ressentimento. É
um passo para além da ressonância, é o caminho para a consistência. Encontrar
intensidade se torna mais fácil do que fazê-la durar. Só conseguimos isso
cuidando das nossas portas de entradas (ouvidos, pele, boca…) e cultivando um
ambiente favorável dentro e fora de nós. Temos o desafio de dar consistência ao
que emitimos aos ares e recebemos de volta, sempre de peito aberto. Para
começar, vamos abrir as tampa das nossas caixas e deixar dissipar nossos tão
conservados ecos…
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